Entrada Gratuita
Galeria de Arte do Centro Cultural SESIMINAS BH
fricções anacrônicas
ficções gráficas
Gustavo Machado
marcas e texturas, grafias e textualidades do tempo
Trazer até o rosto o papel e afundar o nariz na sua direção pra sentir com frescor o cheiro da tinta impressa ou tocar o papel com a palma das mãos e acarinhá-lo nas pontas dos dedos até provar entre elas a delicadeza das fibras são mímicas do desejo gráfico, ao qual pertencem também o encanto inaugural com a aparição da imagem, seu nascimento pelo contato das superfícies e seu sentido de revelação visual, para além, claro, do alcance ampliado de sua reprodutibilidade e difusão. Tratamos aqui de uma libido gráfica, manifestada nas imagens da gravura. São mesmo sutis os afetos que se articulam ao longo dos processos de gravação e impressão, disseminados no enlace entre a gramatura do papel e a tênue camada de tinta que a recobre, a figurar a imagem – acontecimento repetível e partilhável, de leveza quase imaterial. “A xilogravura de J. Borges é tão bonita que dá vontade de comê-la”, foi o comentário de um cordelista nordestino que expressa bem esse aspecto sensual dos enredos e atributos da imagem gravada.
Gustavo Machado investiga nas séries de gravuras aqui apresentadas os devires gráficos que implementa na constituição de suas imagens, muito atento à libido gráfica e sua fenomenologia de marcas e texturas, grafias e textualidades. A sensibilidade do artista reconhece a historicidade da mancha gráfica, seja como diagrama de um gestual expressivo singular, em nada projetivo, em que se vale de procedimentos mais fluídos, ou seja também como registro técnico e rastro do processo, como índice das relações estabelecidas entre o artista e as condições materiais de sua prática, percebendo as implicações que são geradas do ponto de vista da elaboração da linguagem da gravura. Daí sua predileção em trabalhar com sistemas de manchas num regime disciplinar eminentemente ligado ao rigor do desenho e à precisão da linha, como a gravura em metal, sobre o qual, porém, ele desdobra os recursos da água tinta e produz texturas gráficas que desestabilizam os limites das linhas e se adensam na multiplicidade de gestos e fluências da tessitura da imagem. Daí também o uso recorrente de estratégias de sobreposições, acúmulos e apagamentos de camadas, que dão legibilidade às relações dinâmicas entre os diversos registros que o artista mobiliza. São encontros de diferentes qualidades gráficas que produzem, no mesmo gesto, uma fricção de temporalidades e estéticas nas superfícies gravadas por Gustavo Machado, em que se intensificam os sentidos dos signos gráficos.
É o que vemos em “Cenas inúteis”, paisagens em que convivem várias camadas e intensidades gráficas. Nestes e em outros trabalhos a referência ao corpo, sua presença afetiva ou o testemunho de sua ação, comparecem atravessadas por tramas. Na série “Libido Gráfica”, Gustavo Machado radicaliza seu gesto gráfico ao produzir gravuras em metal nas quais imprime texturas digitais, de imagens obtidas pelo artista por arte generativa e softwares. Tais gravuras, que poderiam ser interpretadas como “Iluminuras abstratas contemporâneas”, são imagens procedentes de um atrito intensificado entre as texturas tipicamente geradas pelos meios digitais e as transposições realizadas pelo artista para o meio gráfico, para a linguagem da gravura. Nesse deslocamento os pixels e distorções e marcas de glitch das imagens digitais, eventos virtuais e codificados, ganham a materialidade anacrônica de uma tecnologia antiga, mecânica e tradicional que, entretanto, requer maior presença humana e na qual o fazer manual é exigido como uma matriz essencial à produção da imagem, permeada e marcada, portanto, pelos afetos de seus autores e impressores. Há um relevo de desencontro entre o que a imagem representa e os meios para sua representação que revela a dimensão política e crítica dos trabalhos, no que diz respeito às restrições que as tecnologias podem oferecer ao corpo e às subjetividades no capitalismo contemporâneo, tal como descreve o próprio artista: “O visitante é convidado a explorar a complexidade das subjetividades num mundo onde corpo e mente são continuamente fragmentados e reconfigurados pelas forças invisíveis do poder e da informação. Nessas gravuras, o corpo é apresentado como matéria-prima moldada pelas forças econômicas e políticas. Cada imagem atua como uma cartografia oculta, mapeando ausências e revelando as marcas invisíveis deixadas pelo capitalismo contemporâneo. O corpo se torna um território de disputa e a subjetividade é incessantemente moldada e remoldada criando ecos e registros gráficos.”
Júlio Martins, curador
SERVIÇO
FRICÇÕES ANACRÔNICAS FICÇÕES GRÁFICAS -Gustavo Machado
Abertura: 13 de setembro de 2024
Horário: 19h às 22h
Período: 14/09 a 10/11 – Terça a domingo de 09h às 18h
Local: Galeria de Arte Centro Cultural SESIMINAS – Endereço: Rua Padre Marinho, 60 – Santa Efigênia – BH / MG
ENTRADA GRATUITA
CENTRO CULTURAL SESIMINAS BH
Rua Álvares Maciel, 59 – Santa Efigênia, Belo Horizonte – MG
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