Após mais de 25 anos de negociações, o Acordo de Associação entre o Mercosul e a União Europeia desponta como uma importante oportunidade para a indústria mineira. Com a finalização do tratado, que ainda precisa ser assinado para ter validade, os países do Mercosul passarão a ter maior acesso ao mercado europeu, garantindo simultaneamente a proteção de setores sensíveis da economia local. A conclusão é de um estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), com base em dados de exportação e importação do Brasil e de Minas Gerais em relação à União Europeia.
O estudo destaca que um dos principais benefícios será a agregação de valor para indústrias sustentáveis. Minas Gerais, que possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, sai à frente ao produzir a maior parte de seus produtos com energia renovável.
“Um exemplo claro é o ferro-gusa verde. Praticamente 100% do ferro-gusa produzido em Minas Gerais utiliza carvão vegetal proveniente de florestas replantadas, um diferencial com grande apelo no mercado externo. Esse fator se torna ainda mais relevante com a implementação do Mecanismo de Ajuste Fronteiriço de Carbono (CBAM) na Europa, que prevê taxar produtos com base em suas emissões de carbono”, explica Verônica Winter, analista de Negócios Internacionais da FIEMG.
Outro ponto positivo apontado pelo estudo é o impacto no comércio de produtos de alta complexidade tecnológica. O acordo prevê que a União Europeia eliminará 100% das tarifas em até dez anos, sendo que 80% das linhas tarifárias serão liberalizadas imediatamente na entrada em vigor do tratado. “Isso beneficiará diretamente exportadores de produtos como químicos, máquinas, equipamentos médicos e autopeças, setores nos quais Minas Gerais busca ampliar sua participação no mercado global”, destaca Verônica. No setor de metais, a perspectiva é igualmente positiva, com a previsão de 80% de desgravação tarifária logo no início do acordo e a liberalização total em até dez anos.
Além das oportunidades de exportação, o acordo inclui medidas importantes para proteger a indústria automotiva, com prazos estendidos para a redução de tarifas e mecanismos de salvaguarda em casos de impactos severos no setor. “Essas condições são essenciais para uma adaptação gradual das indústrias brasileiras, especialmente as de Minas Gerais. Vale lembrar que, em 2024, cerca de 15% das importações do estado provenientes da União Europeia foram de produtos ligados ao setor automotivo”, pontua Verônica.
Os setores têxtil e calçadista também contarão com medidas de proteção, como a liberalização total em até dez anos. Essa proteção é positiva para Minas Gerais, que tem uma relevante indústria local nesses segmentos e que, sem essas medidas, poderia ser ameaçada pelo crescimento das importações desses produtos, provenientes da UE. Desde 2020, as importações mineiras de calçados prontos aumentaram a uma taxa de 17% ao ano, enquanto o setor têxtil registrou crescimento de 6% ao ano.
Apesar das vantagens, a FIEMG alerta para alguns desafios. O principal ponto de atenção é o aumento da concorrência com produtos europeus, resultante da redução de tarifas. Além disso, há a necessidade de superar entraves logísticos do estado de Minas Gerais para atender à demanda crescente de exportações industriais para a União Europeia.
Setor agrícola
No setor agrícola, o estudo também revela impactos positivos. Segundo dados da FIEMG, o café lidera as exportações mineiras para a União Europeia, representando mais de 63% do volume exportado entre janeiro e novembro deste ano.
O acordo prevê a liberalização de 77% das linhas tarifárias do setor agrícola, o que equivale a mais de 80% do volume comercializado. Além disso, oferece acesso preferencial para produtos de alto interesse, como carnes, frutas, grãos e cafés, além de cotas com tarifas reduzidas para carnes, açúcar e etanol.
Com base no levantamento, a FIEMG conclui que o Acordo Mercosul-União Europeia representa uma grande oportunidade para a indústria e o setor agrícola de Minas Gerais. Contudo, ressalta que os desafios de competitividade e logística precisarão ser enfrentados para que o estado aproveite ao máximo os benefícios oferecidos pelo tratado.
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Thaís Mota
Imprensa FIEMG